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Sem home office, dificuldades para preencher vagas
Entenda os motivos e como a flexibilidade impacta o mercado de trabalho.
12/03/2025, 11:30
Durante a pandemia, milhões de pessoas descobriram que é possível produzir — muitas vezes até mais, sem precisar enfrentar horas no trânsito ou trabalhar em ambientes pouco inspiradores. Agora, com a pressão de algumas empresas para o retorno total aos escritórios, um novo problema surgiu: as vagas que exigem presença física estão demorando muito mais para serem preenchidas. Por trás dessa dificuldade, está uma mudança profunda na forma como profissionais qualificados enxergam o equilíbrio entre vida pessoal e carreira.
Flexibilidade não é mais um "bônus"?
Poderíamos falar em liberdade, autonomia ou qualidade de vida. Segundo pesquisas recentes, mais de 70% dos profissionais consideram a possibilidade de trabalhar remotamente um fator decisivo na hora de aceitar uma proposta. E não se trata apenas de comodidade: a flexibilidade virou um sinal de respeito às necessidades individuais.
Empresas que insistem em modelos 100% presenciais estão enfrentando resistência até mesmo de candidatos que moram perto do escritório. "Percebemos que as vagas híbridas ou remotas atraem até três vezes mais currículos", comenta uma especialista em recrutamento de São Paulo. O motivo? Profissionais talentosos já experimentaram os benefícios do remoto e não estão dispostos a abrir mão deles.
Como o home office virou questão estratégica
Por que as empresas sem home office estão perdendo talentos? A resposta está em um ciclo vicioso. Quando uma organização exige presença total, dois cenários acontecem:
Os colaboradores atuais começam a procurar outras oportunidades. Muitos já se adaptaram a rotinas mais flexíveis e veem o retorno obrigatório como um retrocesso.
O processo seletivo fica mais lento e caro. Candidatos qualificados priorizam empresas que oferecem pelo menos alguns dias de trabalho remoto.
Um gerente de RH do setor de tecnologia relatou que, nos últimos seis meses, 40% das demissões voluntárias em sua empresa ocorreram após o anúncio do fim do modelo híbrido. "Perdemos talentos para concorrentes que mantiveram a flexibilidade", admitiu.
O custo Invisível do presencialismo
Além da dificuldade em atrair novos talentos, empresas inflexíveis sofrem com:
Aumento de custos operacionais: Manter um escritório grande, com equipe presencial, gera despesas com energia, limpeza e infraestrutura.
Desgaste da marca empregadora: Empresas vistas como "ultrapassadas" perdem relevância em plataformas como o LinkedIn, onde a flexibilidade é frequentemente discutida.
Produtividade questionável: Estudos mostram que, em setores como TI e marketing, profissionais remotos tendem a entregar resultados mais consistentes quando têm controle sobre seu ambiente de trabalho.
Um exemplo claro é o caso de uma multinacional do Rio de Janeiro que, após eliminar o home office em 2023, viu o tempo médio para preencher uma vaga saltar de 30 para 90 dias. "Os candidatos perguntam logo na primeira entrevista se há possibilidade de negociar dias remotos", explicou uma recrutadora da empresa.
Como algumas empresas estão encontrando soluções
Para as companhias que insistem no modelo mais presencial, oferecem contrapartidas claras. Algumas estratégias incluem:
Escritórios mais atrativos: Espaços com áreas de descanso, alimentação saudável gratuita e infraestrutura tecnológica de ponta.
Horários flexíveis: Permitir que o colaborador escolha seu horário de entrada e saída, desde que cumpra suas metas.
Bônus por presença: Vale-transporte ampliado, auxílio para combustível ou até dias extras de folga para quem vai ao escritório.
No entanto, especialistas alertam: nenhum benefício substitui a autonomia. "Profissionais da Geração Z e millennials valorizam a liberdade mais do que bonificações em dinheiro", destaca uma consultora de carreiras.
Um híbrido personalizado
A discussão sobre home office vs. presencialismo não deve ser uma guerra, mas uma busca por equilíbrio. Empresas estão adotando modelos customizados:
Escolha do colaborador: O funcionário decide quantos dias quer ir ao escritório, com base em suas tarefas e preferências.
Escritório como espaço de conexão: Os dias presenciais são focados em reuniões criativas e integração, enquanto o trabalho individual é feito remotamente.
Tecnologia integrada: Ferramentas de realidade virtual e plataformas colaborativas estão diminuindo a necessidade de interações físicas constantes.
Um diretor de uma startup de educação relatou que, após adotar um modelo 100% flexível, a rotatividade de funcionários caiu 25%. "Descobrimos que o que importa não é onde se trabalha, mas como se trabalha", resumiu.
Como ficar à frente nesse mercado?
Se você é gestor, reflita: vale a pena insistir em um modelo que afasta os melhores profissionais? Se é colaborador, avalie se sua empresa está alinhada com as tendências que valorizam seu bem-estar.
A verdade é que o home office deixou de ser um benefício temporário para se tornar um pilar da cultura organizacional. Companhias que ignoram essa mudança não só enfrentam dificuldades no recrutamento, mas arriscam ficar para trás em inovação e competitividade.
Fonte: Terra