Você já se sentiu perdido ao trocar a prancheta pelo papel de líder? A transição de designer sênior para líder de design é como aprender a dançar em um novo ritmo: exige confiança, adaptação e uma nova forma de enxergar seu papel. Muitos profissionais talentosos enfrentam crises de identidade nesse processo, questionando se estão prontos para inspirar equipes e dialogar com executivos.  

Na liderança em design através da experiência de Andy Polaine, pioneiro em design de serviços e autor de Service Design: From Insight to Implementation. Com décadas de mentoria a novos líderes, ele revela estratégias para os primeiros 100 dias no cargo, desafios comuns e como construir uma gestão autêntica. Se você está prestes a assumir uma posição de liderança ou quer refiná-la, prepare-se para insights transformadores.  

Entre avanços e retrocessos  

A liderança em design vive um paradoxo. Por um lado, a disciplina conquistou espaço estratégico em grandes organizações, integrando pesquisa, UX e design de serviços. Por outro, a fragmentação das equipes e a pressão por resultados imediatos ameaçam essa evolução.  

Andy Polaine explica que, antes, os líderes construíam práticas coesas, unindo diferentes áreas do design em uma “agência interna”. Isso permitia consistência na qualidade e na cultura organizacional. Hoje, porém, a ascensão do gerenciamento de produto criou silos. Equipes de design são divididas em funcionalidades específicas, lideradas por gerentes de produto, o que dilui a visão holística do design.  

“O produto ainda é uma disciplina menos madura que o design, mas os líderes de produto têm voz alta. Quando a colaboração funciona, é incrível. Quando não, o design vira uma linha de montagem”, alerta Polaine. O desafio atual é manter a coerência sem perder a agilidade — e isso exige uma nova abordagem de comunicação.  

Os desafios dos novos Líderes de Design

Imagine passar anos sendo reconhecido por suas habilidades técnicas e, de repente, precisar liderar pessoas, gerenciar orçamentos e falar a língua dos negócios. Esse é o desafio central para novos líderes: reconstruir a identidade profissional.  

1. O Design Leadership Dip  

Polaine chama essa fase de Design Leadership Dip — um mergulho na insegurança. A síndrome do impostor surge quando o designer deixa de “fazer” para “gerenciar”. A confiança vacila, e muitos questionam: “Será que mereço estar aqui?”.  

A solução? Aceitar que a liderança é um aprendizado contínuo. “Todos estão improvisando. Você foi escolhido por sua experiência — confie nela”, enfatiza Polaine.  

2. Dois Vocabulários, Uma Liderança  

Um líder excepcional domina dois idiomas:  

• Designer para designer: fala sobre processos, metodologias e detalhes técnicos.  

• Designer para executivos: traduz o impacto do design em métricas de negócio (receita, retenção, satisfação).  

“Se você só falar sobre personas e jornadas do usuário, perderá a atenção da diretoria”, explica Polaine. A chave é conectar o trabalho do design aos objetivos estratégicos da empresa, como reduzir custos operacionais ou aumentar a fidelização.  

Imagem: polaine.com

Onde começar?  

Os primeiros três meses definem seu sucesso a longo prazo. Andy Polaine sugere um roteiro focado em escuta ativa e ação estratégica:  

1: Pesquise e Ouça  

Antes de propor mudanças, entenda as dores dos stakeholders. Converse com equipes de produto, engenharia e marketing.

Pergunte:  

• Quais são seus maiores desafios?  

• Como o design pode apoiar seus objetivos?  

Isso cria uma base de confiança e evita que você chegue impondo soluções prontas.  

2: Priorize Tarefas, Não Cargos  

Em vez de contratar “um UX designer” ou “um pesquisador”, identifique as tarefas críticas para o sucesso do projeto. Talvez um profissional com habilidades mistas (pesquisa + prototipagem) seja mais eficiente. “Títulos limitam; habilidades resolvem problemas”, diz Polaine.  

3: Alinhe-se às Métricas da Empresa  

Se a diretoria prioriza redução de custos, mostre como um design consistente diminui retrabalho. Se o foco é crescimento, explique como a experiência do usuário impulsiona vendas.  

O que separa um bom Líder de um Líder Excepcional?  

Para Polaine, a resposta está na autenticidade. “Liderança não é sobre fingir ter todas as respostas. É sobre criar um ambiente onde as pessoas prosperem”.  

Características de um Líder Excepcional:  

• Inspira sem pressionar: equilibra ambição com bem-estar da equipe.  

• Assume vulnerabilidades: reconhece erros e busca feedback.  

• Conhece suas sombras: entende como traumas ou inseguranças podem afetar suas decisões.  

“Um líder que não faz terapia interna vira um chefe tóxico”, brinca Polaine. A jornada de autoconhecimento é tão importante quanto a de gestão.  

Liderança em Design é sobre pessoas, não processos  

Assumir uma posição de liderança é assustador, mas também uma oportunidade de ampliar seu impacto. Nos primeiros 100 dias, foque em construir pontes — entre design e negócios, entre sua equipe e a organização.  

Lembre-se: seu valor não está mais no pixels perfeitos, mas na capacidade de traduzir a visão do design em resultados tangíveis. Como diz Andy Polaine, “líderes excepcionais não temem ser humanos. Eles transformam vulnerabilidade em força”.