Saúde
Tecnologia
Ciência
Psicologia
Pacientes paralisados voltam a andar com nova tecnologia chinesa
O implante cérebro-espinhal chinês que permite que pacientes paralisados voltem a andar em tempo recorde.
31/03/2025, 10:30
A história de Lin, um homem de 34 anos que ficou paralisado após um acidente de trabalho, mudou drasticamente em março de 2023. Após dois anos sem conseguir mover as pernas, ele se tornou o primeiro paciente a receber um novo tipo de implante neurológico desenvolvido por cientistas chineses. O resultado? Em apenas 24 horas após a cirurgia, Lin conseguiu mover suas pernas novamente. Duas semanas depois, já estava andando quase 5 metros com ajuda mínima.
O implante cérebro-espinhal desenvolvido por pesquisadores da Universidade Fudan de Xangai representa uma nova esperança para milhões de pessoas com lesões medulares. Diferente de outras tecnologias semelhantes, este implante atua diretamente na reconexão do sistema nervoso, permitindo resultados muito mais rápidos e promissores.
Como funciona o implante cérebro-espinhal, na prática
A tecnologia chinesa, oficialmente chamada de “tecnologia de interface cérebro-coluna triplamente integrada”, funciona como uma ponte que reconecta o cérebro à medula espinhal. O sistema utiliza pequenos chips de eletrodos com apenas 1 mm de diâmetro, implantados tanto no córtex motor (região do cérebro responsável pelo movimento) quanto na medula espinhal.
Estes eletrodos captam os sinais cerebrais quando o paciente pensa em mover suas pernas, decodificam esses sinais e os transmitem para a parte da medula espinhal abaixo da lesão. Isso cria o que os cientistas chamam de “bypass neural” – essencialmente, um novo caminho para que os comandos do cérebro cheguem aos músculos, contornando a área danificada da medula.
O mais impressionante é que este sistema não depende de dispositivos externos volumosos, como computadores ou estimuladores, para funcionar. Uma vez implantado, ele trabalha de forma autônoma dentro do corpo do paciente.
Imagem: fudan.edu.cn | Universidade Fudan de Xangai
O diferencial da tecnologia chinesa
A interface cérebro-máquina utilizada neste implante é considerada mais avançada que tecnologias semelhantes desenvolvidas em outros países. Enquanto muitas interfaces cérebro-máquina atuais focam na comunicação entre o cérebro e dispositivos externos, o implante chinês prioriza a reconexão direta do sistema nervoso.
Dr. Mao Meng, um dos pesquisadores envolvidos no projeto, explicou que a abordagem chinesa difere significativamente de outras tecnologias:
“Em vez de tentar substituir a função da medula espinhal com dispositivos externos, nosso objetivo é restaurar a comunicação natural entre o cérebro e o corpo. É como reconstruir uma ponte que foi destruída, em vez de criar um sistema de balsas para contornar o rio.”
Esta abordagem pode explicar por que os resultados aparecem tão rapidamente – em questão de horas, em vez dos meses ou anos necessários com outras terapias.

Imagem: fudan.edu.cn | Universidade Fudan de Xangai
Resultados surpreendentes nos primeiros pacientes
A paralisia causada por lesões medulares afeta aproximadamente 3,7 milhões de pessoas apenas na China. Globalmente, esse número é muito maior, tornando qualquer avanço nesta área extremamente significativo.
Além de Lin, outros três pacientes receberam o implante, todos com resultados positivos. O que chama atenção nos relatos médicos é a velocidade da recuperação de movimento:
Lin conseguiu mover as pernas em 24 horas e andar quase 5 metros em duas semanas
Todos os pacientes apresentaram melhora na função motora voluntária
Além do movimento, houve recuperação de algumas sensações, como a vontade de ir ao banheiro
O neurocirurgião Dr. Liu Jiayin, que participou das cirurgias, comentou sobre a reação da equipe médica: “Quando vimos Lin mover os dedos dos pés no dia seguinte à cirurgia, muitos de nós ficamos emocionados. Em mais de 20 anos de carreira, nunca tinha visto uma recuperação tão rápida em casos de paralisia completa.”

Imagem: fudan.edu.cn | Universidade Fudan de Xangai
Um novo horizonte na medicina
O tratamento de lesão medular com esta nova tecnologia mostra resultados muito mais rápidos que abordagens anteriores. Para comparação, uma tecnologia similar desenvolvida por pesquisadores suíços em 2022 levou cerca de seis meses para que os pacientes conseguissem dar os primeiros passos.
O que torna o implante chinês tão eficaz? Segundo os pesquisadores, há três fatores principais:
A precisão da colocação dos eletrodos, que permite uma comunicação mais direta entre cérebro e medula
O algoritmo avançado que traduz os sinais cerebrais em comandos para a medula espinhal
A abordagem de “bypass neural”, que cria uma nova via de comunicação em vez de tentar reparar a existente
A tecnologia de reconexão do sistema nervoso utilizada no implante chinês também se destaca por ser menos invasiva que muitas alternativas, apesar de ainda requerer neurocirurgia. Os chips de eletrodos são extremamente pequenos, minimizando o trauma ao tecido cerebral e medular.

Imagem: fudan.edu.cn | Universidade Fudan de Xangai
O Futuro da tecnologia de interface cérebro-coluna
Os pesquisadores da Universidade Fudan continuam aprimorando a tecnologia de interface cérebro-coluna e planejam expandir os testes clínicos para mais pacientes. Eles também estão trabalhando para tornar o dispositivo ainda menor e mais eficiente.
Dr. Shen Jiawei, líder da equipe de pesquisa, compartilhou sua visão para o futuro: “Nosso objetivo final é desenvolver um implante que possa ser colocado em um procedimento minimamente invasivo e que permita uma recuperação quase completa da função motora e sensorial. Ainda estamos longe disso, mas os resultados iniciais nos dão confiança de que estamos no caminho certo.”
Especialistas em neurociência de todo o mundo estão acompanhando de perto os desenvolvimentos desta tecnologia, que pode representar um ponto de virada no tratamento de lesões medulares.
O impacto humano além dos números
Para entender o verdadeiro impacto desta tecnologia, é preciso olhar além dos dados clínicos e considerar o que significa para a vida dos pacientes. Lin, que passou dois anos dependendo totalmente de cuidadores, agora pode dar alguns passos por conta própria.
“Quando me disseram que eu nunca mais andaria, aceitei como meu destino. Agora, cada pequeno movimento é uma vitória. Poder ficar em pé e olhar as pessoas nos olhos novamente… isso muda tudo”, compartilhou Lin em uma entrevista recente.
Além da mobilidade física, os pacientes relatam melhorias significativas em sua saúde mental e qualidade de vida. A sensação de recuperar algum controle sobre o próprio corpo tem um impacto psicológico profundo.
O que isso significa para o futuro
O desenvolvimento do implante cérebro-espinhal chinês nos lembra que o que consideramos impossível hoje pode se tornar realidade amanhã. Para milhões de pessoas com lesões medulares em todo o mundo, esta tecnologia traz uma nova esperança.
Embora ainda esteja em estágios iniciais e disponível apenas para um pequeno número de pacientes em estudos clínicos, o potencial para transformar vidas é imenso. À medida que a tecnologia avança e se torna mais acessível, podemos estar testemunhando o início de uma nova era no tratamento de lesões neurológicas.
Como disse o Dr. Liu: “O corpo humano tem capacidades de recuperação que ainda estamos descobrindo. Nossa tecnologia apenas ajuda a desbloquear o que já está lá.”
Para Lin e os outros pacientes que recuperaram movimentos que pensavam ter perdido para sempre, o futuro agora tem possibilidades que antes pareciam inalcançáveis. E para a medicina, este é apenas o começo de um caminho promissor.
Fonte: Fudan University