Nos últimos anos, as universidades brasileiras têm sido palco de transformações significativas no que diz respeito às escolhas acadêmicas dos estudantes.

Tradicionalmente, cursos como Medicina, Direito e Engenharia ocupavam os primeiros lugares no ranking de concorrência durante os processos seletivos. No entanto, um fenômeno inesperado ocorreu em 2025: pela primeira vez na história, o curso de Inteligência Artificial ultrapassou Medicina como o mais disputado no SISU (Sistema de Seleção Unificada). Essa mudança reflete não apenas uma transformação nas preferências dos jovens, mas também uma resposta clara às demandas emergentes do mercado de trabalho.  

O que torna esse acontecimento ainda mais fascinante é a velocidade com que a Inteligência Artificial conquistou seu espaço no cenário educacional. Na Universidade Federal de Goiás (UFG), por exemplo, o curso já vinha ganhando destaque desde 2024, quando sua nota de corte no SISU foi de 795, ficando logo abaixo da Medicina, que registrou 805 pontos. Mas o que levou os estudantes a priorizarem uma área tão recente em detrimento de carreiras tradicionais? A resposta pode estar na promessa de inovação, alta empregabilidade e salários atrativos oferecidos por essa disciplina.  

O salto tecnológico e a nova preferência acadêmica  

O avanço da tecnologia tem sido um dos principais motores das mudanças sociais e econômicas nas últimas décadas. A Inteligência Artificial, em particular, se consolidou como uma das áreas mais estratégicas para o desenvolvimento global. Segundo projeções do mercado, o setor de IA deve alcançar cerca de US$ 990 bilhões até 2027, com uma taxa de crescimento anual entre 40% e 55%. Esse crescimento exponencial tem atraído a atenção de empresas de todos os portes, que buscam especialistas capazes de implementar soluções inovadoras em automação, análise de dados e segurança digital.  

No Brasil, a demanda por profissionais qualificados em IA também está em alta. O salário médio de um cientista de dados ou engenheiro de IA pode ultrapassar os R$ 10.000 mensais, tornando essas carreiras extremamente atrativas para os jovens que ingressam no ensino superior. Além disso, a diversidade de aplicações da Inteligência Artificial — desde a saúde até o entretenimento — amplia as possibilidades de atuação, permitindo que os estudantes explorem nichos específicos de acordo com seus interesses.  

Outro fator que contribui para o sucesso do curso é a percepção de que ele representa o "futuro". Enquanto carreiras tradicionais, como Medicina e Direito, continuam sendo valorizadas, elas enfrentam desafios relacionados à saturação do mercado e à crescente competitividade. Por outro lado, a Inteligência Artificial oferece uma oportunidade única de se destacar em um campo ainda em expansão, onde a inovação é constantemente recompensada.  

Imagem: Pódio das notas de corte dos cursos da UFG dos últimos anos, Goiás.

Impacto no ensino superior e no mercado de trabalho  

A ascensão do curso de Inteligência Artificial no SISU 2025 também reflete uma mudança mais ampla no ensino superior brasileiro. Universidades estão percebendo a necessidade de investir em áreas tecnológicas para acompanhar as tendências globais. A UFG, por exemplo, tem sido pioneira ao oferecer um currículo robusto em IA, combinando teoria e prática para preparar os alunos para os desafios do mercado .  

Essa tendência pode incentivar outras instituições a expandirem seus programas de tecnologia. Cursos como Engenharia de Software, Ciência de Dados e Robótica também devem ganhar mais espaço nos próximos anos, impulsionados pela demanda crescente por profissionais capacitados. Além disso, a popularidade da Inteligência Artificial pode inspirar parcerias entre universidades e empresas, criando oportunidades de estágio e projetos colaborativos que beneficiam tanto os estudantes quanto o setor produtivo.  

No mercado de trabalho, a presença de especialistas em IA já está transformando indústrias inteiras. Desde a otimização de processos logísticos até o desenvolvimento de assistentes virtuais, as aplicações dessa tecnologia são praticamente ilimitadas. Empresas que antes dependiam exclusivamente de mão de obra humana agora estão automatizando tarefas repetitivas, liberando seus colaboradores para atividades mais estratégicas. Isso não apenas aumenta a eficiência operacional, mas também cria novas funções que exigem habilidades técnicas avançadas.  

Desafios e oportunidades no horizonte  

Apesar do entusiasmo em torno da Inteligência Artificial, é importante reconhecer os desafios que acompanham essa revolução tecnológica. Um dos principais obstáculos é a falta de infraestrutura adequada em algumas regiões do Brasil. Instituições de ensino localizadas em áreas menos desenvolvidas podem enfrentar dificuldades para oferecer laboratórios modernos e recursos computacionais necessários para formar profissionais de alta qualidade.  

Além disso, há questões éticas e sociais relacionadas ao uso da IA. A automação de certas funções pode levar à substituição de trabalhadores humanos, gerando preocupações sobre desemprego e desigualdade. Para mitigar esses impactos, é fundamental que as políticas públicas incentivem a capacitação contínua da força de trabalho, garantindo que ninguém fique para trás nessa transição.  

Por outro lado, as oportunidades superam os desafios. A Inteligência Artificial tem o potencial de resolver problemas complexos em áreas como saúde, educação e meio ambiente. Por exemplo, algoritmos de IA já estão sendo usados para diagnosticar doenças com maior precisão e desenvolver tratamentos personalizados. Na agricultura, drones equipados com sensores de IA ajudam a monitorar cultivos e prever safras, aumentando a produtividade e reduzindo desperdícios.  

A virada histórica no ranking de cursos mais concorridos do SISU 2025 marca o início de uma nova era no ensino superior brasileiro. A escolha pela Inteligência Artificial como a carreira mais disputada reflete uma mudança de mentalidade entre os jovens, que estão cada vez mais voltados para o futuro e dispostos a abraçar as oportunidades oferecidas pela tecnologia.  

Enquanto isso, o mercado de trabalho continua a evoluir, recompensando aqueles que se especializam em áreas emergentes. Para as universidades, o desafio será acompanhar essa demanda, investindo em infraestrutura e formação de qualidade. Para os estudantes, a mensagem é clara: o futuro pertence àqueles que estão dispostos a aprender, inovar e se adaptar.  

Ao olhar para os próximos anos, fica evidente que a Inteligência Artificial não é apenas uma tendência passageira, mas uma força transformadora que moldará o mundo por décadas. Que lições podemos tirar dessa revolução? E como podemos garantir que seus benefícios sejam acessíveis a todos? Essas são perguntas que continuarão a guiar o debate sobre o papel da tecnologia em nossa sociedade.