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O futuro do Instagram e WhatsApp em jogo
Os detalhes do julgamento antitruste contra a Meta e os desafios envolvendo Instagram e WhatsApp.
15/04/2025, 20:55
O gigante das redes sociais enfrenta um processo histórico que pode mudar completamente o cenário digital que conhecemos hoje. O julgamento, iniciado em 14 de abril de 2025, coloca em xeque duas das maiores aquisições da história da tecnologia e pode resultar no desmembramento de um dos impérios digitais mais poderosos do mundo.
O caso que pode redesenhar o mapa das redes sociais
O julgamento antitruste da Meta começou oficialmente nesta segunda-feira em Washington, colocando Mark Zuckerberg frente a frente com a justiça americana. A Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC) acusa a empresa de práticas monopolistas ao adquirir o Instagram em 2012 e o WhatsApp em 2014, eliminando potenciais concorrentes antes que pudessem ameaçar a dominância do Facebook.
De acordo com a FTC, essas aquisições fizeram parte de uma estratégia deliberada conhecida como "buy or bury" (comprar ou sufocar), que teria permitido à Meta consolidar seu domínio no mercado de redes sociais e aplicativos de mensagens. Se o governo americano vencer a ação, Zuckerberg poderá ser obrigado a vender ambas as plataformas, reconfigurando completamente o panorama digital global.
As provas contra Zuckerberg
Entre as evidências mais contundentes apresentadas pela acusação estão os e-mails do próprio Mark Zuckerberg. Em mensagens enviadas a executivos da empresa, o CEO teria expressado claramente sua intenção de adquirir concorrentes em vez de competir com eles.
"Ele disse que é melhor comprar do que competir. É difícil ser mais literal do que isso", afirmou a professora Rebecca Allensworth, citada pela acusação. Outro e-mail revelado durante o julgamento mostra a preocupação de Zuckerberg com o crescimento do Instagram: "Instagram estava crescendo tão mais rápido que nós, que tivemos que comprá-los por $1 bilhão... Isso não é exatamente matar".
Daniel Matheson, advogado da FTC, destacou que essas mensagens mostram "o pensamento não filtrado de Zuckerberg sobre o mercado de mídia social". A comissão argumenta que esses documentos comprovam que a Meta adquiriu essas plataformas não para inovar, mas para neutralizar ameaças competitivas.
Um mercado altamente competitivo
A Meta rebate as acusações com veemência. Através de seu advogado, Mark Hansen, a empresa apresentou uma defesa enérgica logo no primeiro dia do julgamento, usando gráficos animados e comparações visuais para mostrar que o mercado de redes sociais é extremamente competitivo.
"A Meta não aumentou o preço em nenhum momento, nunca. A Meta não restringiu a produção em nenhum momento, nunca. A Meta não reduziu a produção em nenhum momento, nunca", argumentou Hansen, destacando que os serviços da empresa são gratuitos para os usuários.
Em comunicado oficial, a Meta reforçou: "As evidências mostrarão o que qualquer jovem de 17 anos sabe: Instagram, Facebook e WhatsApp competem com TikTok, YouTube, X, iMessage e muitos outros". A empresa também destacou que a emergência do TikTok demonstra que os americanos têm uma ampla gama de plataformas disponíveis.
Os investimentos que transformaram Instagram e WhatsApp
Jennifer Newstead, diretora jurídica da Meta, publicou uma declaração enfatizando como os investimentos da empresa transformaram as plataformas adquiridas: "Instagram e WhatsApp são exemplos do que aquisições bem-sucedidas podem alcançar: a Meta tornou o Instagram e o WhatsApp melhores, mais confiáveis e mais seguros através de bilhões de dólares e milhões de horas de investimento".
Segundo a defesa, o Instagram passou de "um pequeno aplicativo com um futuro incerto" para uma plataforma com mais de 2 bilhões de usuários ativos mensais, graças a recursos como mensagens no aplicativo, transmissão ao vivo, Stories e Reels. Já o WhatsApp evoluiu de um modelo de assinatura paga para um serviço gratuito, com recursos como chamadas de voz e vídeo, status e canais.
O contexto político do julgamento
O julgamento antitruste da Meta ocorre em um cenário político complexo. O caso foi iniciado durante o primeiro mandato de Donald Trump e agora continua em seu segundo mandato, com novos desdobramentos. Segundo o Wall Street Journal, Zuckerberg teria feito lobby pessoalmente com Trump para que a FTC abandonasse o caso.
As relações entre ambos, que estavam distantes após Trump ser banido das plataformas da Meta em 2021 (após os eventos no Capitólio), parecem ter melhorado recentemente. A Meta contribuiu com US$ 1 milhão para o fundo inaugural de Trump e nomeou Dana White, aliado próximo do presidente, para seu conselho de diretores.
A decisão de Trump de demitir dois comissários da FTC em março de 2025 também lança sombras sobre o processo. Rebecca Kelly Slaughter, uma dos comissários demitidos, expressou preocupação: "O presidente enviou um sinal muito claro não apenas para nós, mas também para o presidente da FTC, Andrew Ferguson e a comissária Melissa Holyoak de que, se eles fizessem algo que ele não goste, ele poderá demiti-los também".
O impacto potencial de um desmembramento
Se a FTC vencer o caso, as consequências serão profundas não apenas para a Meta, mas para todo o ecossistema digital. O Instagram representa aproximadamente metade da receita da empresa nos Estados Unidos com publicidade, e tanto ele quanto o WhatsApp são peças fundamentais na estratégia de distribuição do assistente de inteligência artificial da Meta.
Especialistas apontam que um desmembramento desmontaria integrações que movimentam bilhões de dólares em publicidade digital e engajamento de usuários. Além disso, o caso pode estabelecer um precedente importante para futuras decisões envolvendo outras gigantes de tecnologia como Google, Amazon e Apple.
A pesquisa da Forrester Research indica que mais da metade dos entrevistados acredita que a Meta detém um monopólio, o que pode influenciar a percepção pública sobre o caso.
O cronograma e próximos passos
O julgamento deve se estender por aproximadamente dois meses. Mark Zuckerberg foi a primeira testemunha convocada e deve prestar depoimento por até sete horas. Além dele, espera-se que Sheryl Sandberg (ex-diretora de operações da Meta) e Adam Mosseri (chefe do Instagram) também testemunhem.
A decisão final caberá ao juiz federal James Boasberg, que preside o caso e será o único a decidir se a Meta violou as leis de concorrência. Independentemente do resultado, é provável que a parte perdedora recorra, potencialmente levando o caso à Suprema Corte dos Estados Unidos.
O que esse julgamento representa para o futuro digital
Este caso transcende uma simples disputa corporativa. Ele questiona fundamentalmente como devemos regular as plataformas digitais que se tornaram centrais em nossas vidas e economias. As aquisições realizadas há mais de dez anos estão agora sob novo escrutínio, levantando questões sobre segurança jurídica para fusões e aquisições aprovadas no passado.
Como destacou o porta-voz da Meta: "Mais de dez anos depois que a FTC revisou e liberou nossas aquisições, a ação da comissão neste caso envia a mensagem de que nenhum acordo é verdadeiramente final". Esta incerteza pode ter implicações profundas para futuras transações em todos os setores, não apenas na tecnologia.
Para os usuários comuns – os mais de 4 bilhões de pessoas que utilizam essas plataformas diariamente – o resultado pode determinar como interagimos online nos próximos anos. O julgamento não é apenas sobre o destino de duas aplicações populares, mas sobre o equilíbrio entre inovação, concorrência e regulação na era digital.
Independentemente do veredito, uma coisa é certa: este julgamento histórico marcará um ponto de inflexão na forma como enxergamos e regulamos as gigantes da tecnologia, com consequências que transcenderão fronteiras e impactarão gerações futuras.
Fonte: Business Insider | It Forum | G1