Cultura Organizacional
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O futuro das lideranças femininas
Apesar de representarem 45% da força de trabalho, apenas 32% ocupam cargos gerenciais no Brasil.
01/04/2025, 22:35
Você já notou como uma cadeira vazia pode contar uma história poderosa? Cadeiras de escritório vazias foram estrategicamente posicionadas pelo LinkedIn, criando uma imagem que fala mais que mil palavras. Cada uma delas representa um espaço de poder que poderia, e deveria, estar sendo ocupado por uma mulher. A cena, simples mas impactante, nos convida a refletir sobre quantas vozes femininas ainda estão ausentes das mesas onde decisões importantes são tomadas diariamente.
A dura realidade brasileira em números
As mulheres na liderança corporativa brasileira enfrentam uma realidade que os números não deixam mentir. Apesar de representarem 45% da força de trabalho do país, apenas 32% delas conseguem alcançar cargos de gestão. Este avanço é tímido quando comparado aos 29% registrados em 2015, mostrando que caminhamos, sim, mas em passos lentos demais. A pesquisa, compartilhada pelo LinkedIn, traz um dado que nos faz parar para pensar: sem mudanças significativas, o Brasil levará 53 anos para alcançar um nível adequado de equidade de gênero no ambiente corporativo.
O problema se torna ainda mais evidente quando olhamos para a hierarquia organizacional como uma escada. À medida que subimos cada degrau, a presença feminina diminui drasticamente: há uma queda de 17% na transição para cargos de diretoria e, quando chegamos ao patamar da Vice-Presidência, a redução atinge alarmantes 21%. É como se, a cada novo nível de responsabilidade, mais portas se fechassem para as profissionais mulheres.
Quanto mais alto, menos diversidade
Quando analisamos setores específicos, o cenário se torna ainda mais preocupante. Em áreas como tecnologia e serviços financeiros, tradicionalmente dominadas por homens, a disparidade de gênero se acentua de forma dramática. Os números mostram declínios de até 40% e 46%, respectivamente, ao longo da progressão de carreira feminina nesses campos.
É importante ressaltar que esse não é um problema exclusivamente brasileiro. Globalmente, 45% das novas contratações foram femininas, representando uma queda de 1,6 ponto percentual em relação ao ano anterior. Esse retrocesso sinaliza que a equidade de gênero nas organizações é uma preocupação mundial que demanda atenção urgente.
Por que tantas cadeiras continuam vazias?
O que impede tantas mulheres talentosas de ocuparem posições de liderança? As barreiras são múltiplas e frequentemente sutis. Desde vieses inconscientes nos processos de seleção e promoção até a falta de políticas de suporte à maternidade, as profissionais femininas enfrentam obstáculos que seus colegas homens simplesmente desconhecem.
A cultura organizacional também desempenha um papel crucial nesse desequilíbrio. Ambientes de trabalho que valorizam comportamentos tipicamente associados ao masculino, como assertividade extrema ou disponibilidade 24/7, acabam criando um terreno desigual para o desenvolvimento de lideranças femininas. Somasse a isso a escassez de modelos femininos em posições de poder, o que dificulta que novas gerações de mulheres se visualizem nesses cargos.
Tornando o invisível visível
A ação do LinkedIn com cadeiras vazias em espaços públicos traz materialidade a um problema muitas vezes invisibilizado. Ao transformar a ausência em presença física, a campanha consegue chamar atenção para algo que, de outra forma, poderia passar despercebido no agitado cotidiano urbano.
O material foi registrado em vídeo e compartilhado na plataforma, gerando discussões importantes sobre a presença feminina em cargos de gestão. É uma forma criativa de colocar em pauta um tema que, apesar de sua relevância, nem sempre recebe a atenção merecida nas conversas corporativas.
Contratação baseada em habilidades
Entre as soluções propostas pela campanha, uma se destaca pelo seu potencial transformador: a contratação baseada em habilidades. Este modelo poderia expandir o alcance dos talentos femininos em até 13 vezes, com um aumento de 12% na participação de mulheres em funções sub-representadas no Brasil.
Ana Claudia Plihal, Head de Soluções para Talentos do LinkedIn Brasil, analisa:
"Temos um grande espaço para avançar e para que empresas possam reequilibrar a presença feminina em indústrias historicamente masculinas, principalmente nas áreas de Tecnologia, Construção e Logística. Já em setores onde as mulheres são maioria, como Saúde e Serviços ao Consumidor, a prática poderia contribuir para uma força de trabalho mais equilibrada, ampliando a diversidade e impulsionando ainda mais a inovação".
Esta abordagem permite olhar além do histórico profissional tradicional, focando nas competências reais que a pessoa traz para a organização. Assim, mulheres que possam ter tido trajetórias não lineares, muitas vezes interrompidas por responsabilidades familiares, têm chance de serem avaliadas pelo seu verdadeiro potencial.
O papel das organizações e dos líderes atuais
As empresas têm responsabilidade direta na mudança desse cenário. Implementar programas de mentoria, estabelecer metas claras para diversidade em cargos de liderança e revisar criticamente processos de promoção são passos fundamentais para quebrar o "teto de vidro" que limita a ascensão profissional feminina.
Líderes, independentemente de seu gênero, precisam atuar como aliados nessa transformação. Isso significa abrir espaço para que vozes femininas sejam ouvidas, reconhecer e confrontar vieses em decisões de contratação e promoção, e criar ambientes onde mulheres possam prosperar profissionalmente sem precisar adotar comportamentos que não refletem sua autenticidade.
Inspirações que abrem caminhos
Apesar dos desafios, muitas mulheres têm conseguido romper barreiras e assumir posições de destaque no cenário corporativo brasileiro. Estas líderes não apenas contribuem com suas competências individuais, mas também abrem portas para que outras mulheres possam seguir caminhos similares.
Reconhecer e celebrar essas trajetórias é fundamental para criar referências positivas. Cada história de sucesso feminino em posição de liderança ajuda a desconstruir estereótipos e mostra que, sim, é possível ocupar aquelas cadeiras que hoje permanecem vazias nos escritórios Brasil afora.
O caminho para preencher as cadeiras
O que podemos fazer, de forma prática, para mudar esse cenário? Aqui estão algumas ações que podem contribuir para uma maior equidade de gênero nas lideranças corporativas:
Defender processos de seleção baseados em habilidades, não apenas em trajetórias lineares
Criar programas específicos de desenvolvimento de lideranças femininas
Implementar políticas que apoiem a conciliação entre vida profissional e pessoal
Estabelecer metas claras para diversidade de gênero em todos os níveis hierárquicos
Combater ativamente vieses inconscientes nas avaliações de desempenho
Fomentar redes de apoio e mentoria para mulheres em início de carreira
Um convite à reflexão e ação
A campanha do LinkedIn não busca apenas expor um problema, mas nos convida a fazer parte da solução. Como profissionais, líderes ou simplesmente cidadãos, todos temos um papel a desempenhar na construção de um mercado de trabalho mais equitativo.
Tal como as cadeiras vazias simbolizam ausências que precisam ser preenchidas, cada pequena ação em direção à equidade representa um passo para um futuro onde o talento, não o gênero, determine quem ocupa posições de liderança. A pergunta que fica é: o que você fará para ajudar a preencher essas cadeiras?
O futuro da liderança feminina no Brasil
Mudar um cenário de desigualdade construído ao longo de décadas não acontece da noite para o dia. Porém, cada conversa gerada, cada viés confrontado e cada política implementada nos aproxima de um ambiente corporativo onde mulheres tenham as mesmas oportunidades que seus colegas homens.
As cadeiras vazias espalhadas pelo LinkedIn são mais que elementos de uma campanha de conscientização, são um chamado para ação. Elas nos lembram que, por trás de cada estatística, existem talentos reais sendo desperdiçados e vozes valiosas sendo silenciadas.
O caminho para a equidade de gênero nas lideranças brasileiras ainda é longo, mas cada cadeira preenchida representa uma vitória coletiva. E você, está pronto para contribuir para essa transformação?
Fonte: Linkedin